segunda-feira, 17 de setembro de 2012

De crise em crise até à queda fatal



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Hoje, mais do que nunca, estamos todos aqueles que empobrecem acreditando que a prosperidade é função do valor que se cria, contra esses tais, aqueles para quem o lucro é função da riqueza que os deixamos destruir.

Num grupo de debate em que participei, discutia-se que o próximo passo nas exigências da Troika seria o despedimento de funcionários públicos. Quando isso acontecer, não faltarão os aplausos dos fundamentalistas do liberalismo, de alguns empresários e até de funcionários do setor privado. Mesmo porque, como é costume, tudo será antecedido por uma ampla campanha noticiosa: quanto ganham os gestores? Quanto se gasta em salários? Quantos carros tem o tal instituto ou o tal hospital? Tudo questionado sem que jamais se fale nas contrapartidas em serviços, mas sempre e sempre denunciando os gastos e apenas os gastos.
Sem aplaudir por decoro, mas esfregando as mãos de contentamento, estarão ainda aqueles que contratarão os ex-funcionários públicos, para que façam as mesma tarefas por metade dos salários, mas com o triplo dos custos para o Estado. Rejubilarão também os que se preparam para as Parcerias Publico Privado que substituirão os serviços em causa.
Sinceramente, eu estou farto de ouvir falar na ineficácia do setor público como justificação de todos os males. Só para ilustrar com um exemplo, os Estados Unidos são o país do mundo onde o gasto percapita na saúde é maior e têm indicadores piores do que Portugal. Por lá, a saúde sempre foi um negócio exclusivamente privado, por cá tudo se prepara para que também seja.
Já agora, como não comparar também as Universidades Públicas às privadas, algumas das quais até diplomas de favor vendem?
Os problemas que atravessamos nada têm a ver com os serviços que o Estado assegura (o que, claro, implica funcionários), mas com a completa desregulação da finança internacional que nos tem levado de bolha em bolha até à explosão final. Um turbilhão em que a bolha seguinte serve para compensar as perdas da anterior e, no final, o cidadão/consumidor ou pequeno investidor é sempre quem suporta os custos.
Nesta sucessão de consecutivos empolamentos de valor, o ataque seguinte é sempre praticado sobre um tipo de produto mais essencial do que o anterior.
Eles querem distração? Espetemos-lhes com uma bolha tecnológica. Rebenta a tecnológica e eles têm de abdicar da distração, mas de casa não que de telha todos precisam: pum, bolha imobiliária e os preços da habitação a disparar. Ai Jesus que se nos rebentou a imobiliária. E agora? De que não podem eles abdicar mesmo? De comer, claro: catrapum, especulação no mercado alimentar e os preços dos alimentos a subir, a subir.
Esta última é a bolha em que estamos a viver. Que morra gente de fome pelas ordens que são dadas a partir de luxuosos gabinetes, isso não importa. Especular-especular, isso sim, que pode não haver casa mas comer todos têm de comer.
De mãos dadas com este movimento, está a corrupção, que o dinheiro sobra sempre para quem ajuda a tornar possíveis lucros tamanhos. Marcha em frente que no fim alguém há-de pagar… e alguém está a pagar, como bem se tem visto.
É este ciclo infernal que temos de interromper. Hoje, mais do que nunca, não deveríamos estar portugueses contra alemães, alemães contra americanos, americanos contra chineses. Hoje, mais do que nunca, estamos todos aqueles que empobrecem acreditando que a prosperidade é função do valor que se cria, contra esses tais, aqueles para quem o lucro é função da riqueza que os deixamos destruir.
Uma última questão. Quando finalmente rebentar mais esta bolha, a alimentar, qual será a que se segue? Há dias fui abordado por uma promotora de talhões num cemitério… temo que a seguir só reste mesmo este setor, que comer até podemos não comer, mas morrer lá teremos todos de morrer…
 
Luís Novais

* Foto: Everystockphoto 

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