sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Jornalismo e Desmistificação


Vai um grande debate sobre a profissão do jornalista. Um pouco por todo o lado as edições em papel perdem leitores, as redações diminuem de tamanho e os despedimentos coletivos são uma constante, seja na Europa, seja nos Estados Unidos; seja no “El País”, seja no “Público” que duma assentada vai despedir 50 jornalistas.


Podemos analisar esta questão do ponto de vista da barbárie capitalista, que é um facto. Mas também do ponto de vista da análise das causas e da perspetivação das alternativas que se colocam.
A sociedade está hiper-informada. Quantos de nós não usamos o Facebook para sabermos pela nossa rede o que se está a passar? Quantos não vamos depois ao Google para aprofundarmos aquilo que nos interessa?
Nesta sociedade já não vale a pena pensar no jornal como meio de veicular a notícia em toda a sua etimologia. O jornalismo noticioso tenderá a perder cada vez mais público e, por via disso, estará cada vez mais entregue a jovens estagiários de custo reduzido e grande rotatividade.
Todavia, se a sociedade beneficia duma hiper-informação, padece também desse mesmo mal. O objeto da notícia aprendeu rápido e aproveitou os novos meios ao seu dispor para se transformar em criador e veículo da notícia. O atual Presidente da República justificou o investimento que fez no site da presidência com a necessidade de ultrapassar os critérios jornalísticos e comunicar diretamente com os portugueses. E quem esqueceu o recente episódio em que Miguel Relvas ameaçou uma jornalista de veicular uma determinada informação pessoal através da… internet?
Acontece que o objeto da notícia não é isento. Ou antes, aceitando que a isenção não existe, o objeto da notícia é parte da mesma, tem por isso um interesse muito diferentes do de informar. A sociedade hiper-informada em que vivemos estará mais ou menos consciente disso e a crença generalizada de que “já não sabemos em quem confiar” é uma hipertrofia da crise da pós-modernidade: a transformação da verdade helénica na mera palavra tantas vezes repetida quantas as necessárias para que o precedente se transmute em transcendente, o dito em verdade.
Esse papel de ir mais além da notícia transformada em verdade auto-construída, esse julgo ser o papel que hoje está reservado ao jornalista. É um caminho difícil: por segurança psicológica e preguiça mental, o ser humano tem a tendência de acreditar em mitos; gosta que lhos criem e a eles adere de forma irracional. Para mais, os mitos protegem-se mutuamente: o medo gerado pelo do anticristo serve para proteger o seu contrário. Não é tarefa fácil, a do destruidor de mitos, é ser uma espécie de anticristo, é certo. Mas é tarefa necessária e os vazios são espaços à espera de preenchimento.
 
Luís Novais


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