quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

UMA CAMPANHA NADA ALEGRE




De tudo o que vi e ouvi neste debate, somado a outro tanto que durante a campanha fui ouvindo e vendo, ficou-me a ideia de que apenas um dos candidatos tem aquele perfil que imagino num Presidente da República.

Ontem foi dia de debate e, ainda que no Peru, consegui acompanhá-lo através da RTP internacional. O resultado foi um nim quase generalizado, com o candidato da direita a lançar a cana de pesca à esquerda, e o preferido da esquerda algum engodo à direita. 

Marcelo como Nóvoa, fugiram ao compromisso como o diabo da Cruz. Um cínico professor a dizer que confia no Primeiro-ministro quando este se afirma capaz de dar quadratura ao círculo em que se meteu. Um patético ex-reitor querendo fazer-nos acreditar que não garante que aprove o Orçamento de Estado porque ainda não o conhece.

Valeram as tiradas de Tino o de Rãs, que desanuviou pela via do riso, mas que pelo menos uma vez teve capacidade de avistar a Taprobana, quando deu o exemplo do sem-abrigo com quem tinha passado a noite anterior.  
  
Certeiro também Paulo Morais, pelo menos em duas ocasiões. Primeiro quando relacionou o cumprimento da constituição com a gratuitidade dos livros escolares, denunciando a relação entre o lobby editorial e a inexistência de um banco de manuais em cada escola. Marcou igualmente pontos quando respondeu às críticas de que as suas denúncias eram genéricas: Apontou casos concretos que entregou à procuradoria e, depois, denunciou os políticos honestos que, em vez de atacarem os desonestos, o atacam a ele. 

Os restantes candidatos e a candidata não marcaram nem desmarcaram e Marisa fez até um autogolo, quando acusou os restantes de não terem denunciado a tão questionada decisão do Tribunal Constitucional que implica devolver as subvenções vitalícias aos ex-políticos. No contexto dum debate destes, ninguém lhe lembraria de quem foi a decisão e que ao Presidente lhe compete, em primeiro lugar, cumprir e fazer cumprir a constituição, concorde-se ou não. O grande erro foi, contudo, ter aberto a porta para que quase todos a contradissessem, lembrando um momento específico em que também eles se manifestaram contra esta deliberação.

De tudo o que vi e ouvi neste debate, somado a outro tudo que durante esta campanha fui ouvindo e vendo, ficou-me a ideia de que apenas um dos candidatos tem aquele perfil que imagino num Presidente da República. Trata-se de alguém que esteve na política sem dela beneficiar, que nunca calou a denúncia a algumas das páginas mais negras da história do seu próprio partido, que tem sobriedade e perfil ético.

Desde Setembro estava decidido a votar em Sampaio da Nóvoa se o PAF formasse governo, ou em Marcelo Rebelo de Sousa, se essa tarefa caísse sobre António Costa. Num caso como no outro, não era um voto de convicção, mas antes uma forma de contrariar a deriva neoliberal de uns, ou o excesso de devaneio dos outros. Considerava que esta era uma eleição desinteressante e que a falta comparência de Guterres e Barroso tinha aberto a porta a candidatos de segunda divisão.

Henrique Neto poderia dar-me a possibilidade de votar, pelo menos com alguma convicção.


Luís Novais 


Artigos relacionados: O ABADE PRESIDENTE

Sem comentários:

Enviar um comentário